Em plena semana do Dia da Consciência Negra, os debates em torno das questões raciais (além de outras questões sociais e políticas) ganharam intensidade ainda maior após a morte de um homem negro, chamado de João Alberto, brutalmente causada por espancamento, em uma unidade do Carrefour, no estado do Rio Grande do Sul. E, antes que você me pergunte se este ainda é um blog sobre música na igreja e músicos cristãos e assuntos do tipo, não se preocupe: não pretendo entrar "de cabeça" e em mergulho profundo neste tema e/ou no fato em si. Não é este o propósito deste post. Mas confesso ter ouvido de um conhecido que nós, cristãos, temos OBRIGAÇÃO DE SE POSICIONAR E POSTAR ALGO; ele disse por ver, segundo ele, silêncio por parte dos cristãos quanto ao assunto. De fato, não entrarei neste debate, mas isso me chamou atenção e me fez pensar em nosso papel enquanto artistas, músicos. O músico cristão tem mesmo obrigação de se posicionar publicamente quanto a questões desse tipo?
De fato, hoje, tem havido constante pressão em torno do tal "se posicionar", mas... o que seria isso exatamente? Será que o posicionamento tão exigido significa necessariamente postar algo em mídias sociais? E para aqueles que lidam com a arte, isso significa que obrigatoriamente a pauta que estiver em voga no momento (seja em relação a questões sociais, seja em relação a feminismo, machismo, ou o que for) precisa estar nas letras de suas canções? E para aqueles que fazem música e que são cristãos esta exigência também se mantém?
É bem verdade que, ao longo da história, as artes têm se mostrado um meio bastante utilizado em manifestações de todo tipo. E isso é mais que natural, uma vez que a arte é tida como expressão de sentimentos, ideias, convicções. Logo, teoricamente, canta-se o que se vive, vê, sente, pensa... mas imaginemos se a cada novo item na pauta das discussões acaloradas em redes sociais o compositor se sentir obrigado a escrever algo. E, o que podemos dizer daqueles que não são compositores, e sim "apenas" intérpretes...?
Penso que, sim, nossa arte precisa ser sempre atual e relevante a seu tempo. Mas também creio que ela deva ser constante, firme, consistente e perene. Talvez, então, um equilíbrio entre "relevância imediata" e "coerência com a história de vida do artista" precise ser buscado. Ufa. Outro desafio, ná? Mas há também outra alternativa.
Pensando no artista cristão, não podemos nos esquecer de que temos uma missão, que, por sinal, é a mesma de todo cristão, mas que, no nosso caso, ganha "contornos dramáticos", pra não dizer "artísticos" e soar ainda mais óbvio. hehe Sim, porque nossa missão pode ser (por meio da linguagem artística com a qual Deus nos presenteou o privilégio de praticar) apresentada ao mundo de tantas maneiras... maneiras essas que transcendem o trivial, o ordinário e o, às vezes, odioso, comum do que se vê em Facebook, Instagram e cia. E isso deveria nos estimular ainda mais a seguir nesta missão (caso alguém não se lembre qual é, basta consultar Mateus 28.18-20), seja como for. Há tantas maneiras diferentes de se praticar boa música, quer "dentro ou fora da igreja" e, sim é nossa responsabilidade fazer isso com sabedoria, de modo que tudo redunde em glória ao Músico dos músicos, Artista dos artistas, espalhando o reflexo de Sua imensa glória por meio de algo tão belo que é a arte. E estas inúmeras e diferentes maneiras precisam ter algo em comum: seu fundamento e alvo.
Tudo na vida do cristão deveria ter como base e como objetivo seguir a Escritura, a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus. E por que deveria ser diferente com a música que praticamos. Então, se é realmente necessário se posicionar com relação a algo, isto precisa ser feito conforme ensinam as Escrituras. Sejam protestos, críticas sociais, mensagens de compaixão, expressão de amor (a Deus e/ou a pessoas), denúncias... TUDO deve ser feito tendo a Escritura como base e como alvo. E, se assim o fizermos, qualquer posicionamento que apresentarmos estará ajustado dentro daquilo que o Artista deseja que façamos.
Portanto, pensando por esse prisma... eu diria que SIM, temos, sim a OBRIGAÇÃO de nos posicionarmos e não apenas com relação a questões sociais e políticas. O cristão deve estar sempre se posicionando em suas escolhas profissionais, relacionais, naquilo que consome, naquilo que vê, lê, escuta e, sim, naquilo que promulga, divulga, expressa, extravasa em suas canções. Mas realmente penso que isso não significa que sejamos obrigados a dizer frases prontas / slogans de campanha "X" ou "Y" (a não ser que desejemos e que estejam de acordo com a Escritura!) e tampouco devamos postar hashtags "do momento" apenas "pra ficar bem na fita" com tais e tais pessoas de um lado ou de outro, ou até de um terceiro.
Se você, querido músico cristão, deseja se posicionar seja no que for e apresentar as ideias em que acredita ao mundo, creio eu não haver melhor lugar do que por meio de sua arte!!! Use e abuse daquilo que Deus te deu o privilégio de ter em seus lábios e boca, braços e mãos, dedos e tendões, para que a mensagem em que você crê possa ser promulgada. E aqueles que não são compositores e que podem pensar "Não tenho como fazer isso!" devem se lembrar de que a escolha de repertório é também algo crucial e que muito diz sobre o artista. Sim, pois, a partir do momento que você escolhe interpretar aquele repertório, você se apropria dele e ele de você; ele passa a também ser seu!
Mas... e quanto a falar... falar mesmo...? Quanto a dizer algo no microfone, antes das apresentações e tal...? Bom, eu diria, de coração bem aberto e com toda a sinceridade, que há alguns de nós que... basta resumir dizendo que cantam melhor do que falam. rsrsrs Diria até que há alguns que compõem fantasticamente melhor do que falam um pequeno parágrafo antes de uma ou outra canção. É bem verdade que seu direito de fala continua. É até constitucional! Mas... lembrando-se do que diz e ensina nosso fundamento e alvo, a Escritura, "no muito falar, há transgressão, mas o que modera os lábios é prudente" (Provérbios 10.19). Então... além de não custar nada, é mais que necessário pensar muito bem antes de falar! Embora se tenha o direito de dizer o que quer e na hora em que quer, pensar bem sobre isso e as implicações que isso traz e o o quanto isso glorifica ou não a Deus e abençoa ou não pessoas é papel de todo cristão, o que não exclui o cristão que é músico, né?
Vamos lá, meu amigo e irmão, músico e cristão. Vamos usar nossa arte da melhor forma possível. Vamos cantar sobre a vida e sobre este mundo do século XXI, mas façamos isso com habilidade e responsabilidade, sem deixar que nos levem o medo da não aceitação ou as pressões (quer a favor ou contra); que nossa arte seja tão sincera quanto devem ser nossos corações e que nossas canções sejam apenas um reflexo daquilo que está aqui dentro, pulsando, latejando, "gritando" pra sair em liberdade melódica, harmônica e poética!
Que Deus nos dê sabedoria!
Em Cristo,
Marcus Vinicius de Freitas
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