Pular para o conteúdo principal

SACRIFÍCIOS DO MINISTÉRIO





Tive o privilégio de crescer num lar cristão e de ser educado no ambiente da igreja. Costumava acompanhar meu pai e meu tio nos ensaios de sábado praticamente desde que nasci. Na verdade, não consigo (mesmo) me lembrar de quando foi a primeira vez em que estava nos ensaios e/ou que cantei ou toquei; durante muito tempo, sábado à tarde era sinônimo de ensaio pra mim e não sabia o que significava ter um sábado à tarde livre. hehe

Não digo isto em tom de reclamação ou queixa (muito pelo contrário). Sou muito grato a Deus por ter vivido isso tudo. E o que mais me marcou (sempre) foi poder ver o comprometimento e dedicação de minha família na prática ministerial deles (que se tornaria minha também). Aquilo tudo me deixou marcas indeléveis que carrego ainda hoje. 

Lembro-me com frequência de quantas vezes abrimos mão de momentos de lazer, de ir à nossa casa de praia (meu pai, depois de alguns anos, resolveu vendê-la, dentre outras coisas, porque não valia apena manter algo que não era usado rsrsrs), de ir a aniversários, a jogos de futebol, reuniões de família, dentre outras coisas que se fazem no sábado. Depois de muitos anos, os horários de ensaio até mudaram (saíram do sábado e foram pra semana à noite), mas continuaram parte indispensável de nossa prática ministerial, mesmo quando isto significava ensaiar das 22h às 24h da quinta ou sexta à noite. Que saudade... :(

Consigo me lembrar ainda de muitas outras coisas além do ensaio (já escrevi sobre ensaio por aqui em outros posts e não é meu interesse agora hehe). Consigo, por exemplo, me lembrar bastante de inúmeras vezes em que nossa igreja precisava comprar este ou aquele equipamento, mas o orçamento estava apertado e tanto meu pai quanto meu tio, meu cunhado, meu primo (e outros irmãos que também são família pra nós e que seguiam a mesma "tendência" de dedicação e amor ao ministério) se juntavam e tiravam dinheiro "de onde não tinham" (nunca foram e ainda não são ricos, tá? rsrs) pra entregar o melhor que podiam para a obra do Pai. Preferiam isto a ficar se queixando de que a igreja não fazia isto ou aquilo; eles entendiam que muito mais que uma instituição eles próprios eram (e são) a igreja. E tantos exemplos mais eu poderia citar, não apenas deles (como já disse), mas também de outros irmãos e irmãs que Deus tem usado, ao longo de 3 décadas, pra forjar meu caráter e me ensinar grandemente sobre o valor do ministério.


Nem tudo são flores!

É claro que muitas dificuldades se colocaram diante de todos nós ao longo desse tempo todo e sacrifícios precisaram ser feitos. E este é o grande foco aqui. Tenho visto, nos últimos anos, que muitos têm se esquecido disso ou tentado fugir deste fato, mas o ministério demanda de todos nós certo sacrifício. Não me refiro aqui, obviamente, ao sacrifício de bois, carneiros e etc., pois Cristo já o fez e de uma vez por todas (cf. Hebreus 9.28); mas o ministério, quando vivido de maneira plena (e bíblica) nos fará abnegar de muita coisa. É maravilhoso fazer parte da prática musical na igreja e poder servir ao Senhor e aos nossos irmãos com a música, mas nunca podemos nos esquecer de que nem tudo são flores!

Frequentemente, quando estou ensinando (ou em minha própria igreja ou em outras nas quais tenho o privilégio de estar), tenho ouvido alguns irmãos se queixando disso ou daquilo, afirmando não ter tempo pra isto ou aquilo e usando o fato de não serem "pagos pra isto" como desculpa para abrir mão do privilégio que Deus nos dá de nos sacrificar um pouco (ao menos um pouco) pelo ministério que Ele nos confiou. Se ganhasse um real a cada vez em que ouvi alguém dizendo "A gente não só faz isso da vida", estaria rico. rsrs E em cada uma destas vezes, lembro-me destes vários irmãos que tenho conhecido ao longo dos anos, que, mesmo tendo seus trabalhos seculares, família e tantas outras coisas pra dar conta, nunca deixaram de oferecer o melhor ao seu Deus em ensaios, preparo de músicas em casa, passagens de som uma hora (ou mais!) antes do culto, dentre várias outras coisas. 


Sacrifícios precisam ser feitos!

Eu mesmo (muito antes de me tornar músico profissional ou pastor, já que estes são "os únicos" que têm obrigação de se dedicar, né? rsrs) pude testemunhar irmãos "rasgando sua carne" por amor à obra e ao Senhor, mesmo quando as dificuldades vinham. Lembro-me, com muito carinho, de um grande baterista, grande amigo (mais chegado que irmão) que, por não ter bateria em casa, ia pra igreja bem mais cedo que todo mundo e até em outros dias da semana pra pegar as músicas e praticar o máximo que podia. Não é à toa que hoje é um dos melhores bateristas que conheço no gênero. E mais importante ainda: um dos servos do Senhor mais fiéis e dedicados e que, tenho certeza, será um grande líder (não apenas musical) nas mãos de Deus!

Definitivamente, o que a nova geração (e muitos da antiga também) precisam entender é que não há como viver o ministério sem que algum sacrifício precise ser feito (seja ele um pequeno esforço ou um grande abrir mão de algo). Já vi até mesmo músicos profissionais abrindo mão de bons cachês em outros lugares (até mesmo em eventos cristãos, casamentos, dentre outros) por causa do compromisso já assumido com determinado culto ou programação em suas igrejas. Eles abriam mão de seu próprio trabalho pelo ministério! Já vi também muita gente abrindo mão da soneca do domingo à tarde ou de ir à praia, pra chegar mais cedo à igreja também. Como disse, pra muita gente são sacrifícios muito pequenos. Pra outros, estes mesmos podem se tornar enormes. De um jeito ou de outro, contudo, os sacrifícios são uma exigência básica (e inevitável) de quem quer viver um ministério fiel e frutífero.


Qual o limite do sacrifício?

É claro que não podemos nos esquecer de que as pessoas são diferentes e possuem limites diferentes. E, por um lado, isto precisa ser respeitado por todos nós, quando nos olhamos e nos cobramos uns aos outros. Por outro lado, isto precisa ser sinceramente vivido por cada um de nós. Explicando melhor: é por isso que, quando algum liderado me diz que não poderá fazer algo, ou que não poderá se fazer presente em tal horário, não costumo ficar fazendo "investigações" e necessariamente perguntando os porquês. Creio que cada um de nós é adulto o suficiente (assim esperamos hehe) pra saber bem se o "não posso" significa realmente isto, e não um "não quero". Cada um de nós dará contas de si ao Senhor (cf. Romanos 14.12) e isto precisa se fazer presente em nossas mentes todas as vezes que damos um "não" aos nossos líderes e ministérios. 

Há momentos em que, de fato, algo será impossível de se realizar. E há também momentos, creio eu, em que o melhor pra alguns de nós será pedir um tempo fora do ministério mesmo. Como exemplo, gosto sempre de mencionar as novas mães, irmãs nossas que acabaram de ter filhos ou que estão no processo. Toda a dinâmica de suas vidas e da vida do casal como um todo muda por completo e, infelizmente, tem gente que quer exigir destes que se comportem da mesma maneira que antes. Não dá. A prioridade de todos nós é e deve ser SEMPRE cuidar de nossa própria casa (cf. 1 Timóteo 3.4; 3.12; 5.4, 8; Tito 1.6). No entanto, também não podemos permitir que o ministério seja prejudicado por contarmos com alguém que não está podendo dar conta das atividades. Por isso, penso eu que, nestas situações (que também podem envolver doença de familiares, processos de mudança pessoal dos mais variados, etc.), o mais sábio a se fazer é pedir um tempo, pra que tudo possa ser reorganizado e, então, o ministério possa ser novamente vivido em sua plenitude. Prefiro, honestamente, ter cinco pessoas com quem podemos realmente contar do que, no papel, ter cinquenta, que, na verdade, nunca estão disponíveis. Como disse antes, cada um sabe onde seu próprio sapato aperta e cada um sabe se está podendo ou não assumir um compromisso sério. 

Por isso que acredito que o estabelecimento deste limite precisa ser algo que começa em cada um de nós, mas que a liderança do ministério precisa também estabelecer algumas medidas e políticas internas do que é plausível ou não como justificativas para o "não posso". Em outras palavras, cada um precisa se sentir livre (e nada constrangido) pra dizer "não" quando preciso for. Entretanto, a liderança do ministério precisa estabelecer um mínimo de pré-requisitos para que alguém faça parte da equipe, de maneira que não tenhamos o que tanto se vê por aí: alguns "se matando" e ralando muito, praticamente "carregando nas costas" o ministério, enquanto outros aparecem apenas "na hora do show", sem um mínimo de sacrifício por aquilo que afirmam amar.


Amamos mesmo nossos ministérios?

Sei que isso tudo pode soar bastante "radical" e até "rigoroso demais" (principalmente pra aqueles que começaram há pouco tempo), mas esta pergunta precisa sempre se fazer presente em nossas mentes: "Eu amo mesmo aquilo que faço?". Escuto muita gente dizer que ama trabalhar para o Senhor com música. Bom, entendo que, quando amamos algo, nos doamos ao máximo e procuramos SEMPRE fazer o nosso melhor e entregar o melhor de nosso tempo, recursos... e temos prazer nisso. Outra pergunta muito válida é: "Eu tenho mesmo me sacrificado por meu ministério ou fraquejo sempre no primeiro indício de cansaço ou na primeira oportunidade que tenho de fazer algo menos doloroso ou mais divertido?".

Talvez, você se encontre numa situação em que eu mesmo já me encontrei: pesado, sobrecarregado e sem um mínimo de estímulo pra fazer seja lá o que for em seu ministério. E, além de dizer o "óbvio" de que Cristo deve ser nosso Estímulo, entendo realmente que, às vezes, Deus está usando isso tudo pra nos dizer que não estamos no lugar certo, pois não amamos (de verdade) nosso ministério. E, se este é o caso, repense o quadro por completo e, se preciso for, saia deste ministério, dando espaço a outros que não possuem sequer uma fagulha de dúvida quanto a isto. Mas, se entende que tudo é apenas uma fase e que Deus lhe reerguerá, entenda também que fazer parte de QUALQUER MINISTÉRIO, exige de nós um "mínimo" de sacrifício.

Se amamos nossos ministérios, não mediremos esforços no cansaço e fadiga, na abnegação, na entrega de nossos bens e de nosso tempo e sempre preferiremos deixar seja lá o que for (que, pra muitos, pode ser prazeroso e divertido) pra estar com nossos irmãos na prática de nossos ministérios.


Assim devíamos orar.

Que em nosso coração possamos sempre dizer: "Senhor, este ministério é Teu, e não meu e sou muito grato pelo privilégio que me deste de fazer parte dele. Se queres, de fato, usar-me aqui, dá-me forças, Senhor, para que, custe o que custar, eu entregue sempre e tão somente o melhor que puder, para o louvor de Tua glória e para a edificação de Teu povo. Dá-me cada dia mais amor por Ti, em primeiro lugar, e, como consequência, por Tua obra, para que nada, absolutamente nada neste mundo me dê mais prazer do que servi-Lo, ao servir meus irmãos, e servir meus irmãos, ao servir a Ti."

Que o Deus Todo-Poderoso nos ajude a entregar tudo o que temos e somos, lembrando que apenas devolvemos a Ele aquilo que já Lhe pertence e que recebemos tudo de Suas próprias mãos (cf. 1 Crônicas 29.10-20). A Ele a glória!





Em Cristo,
M. Vinicius (Montanha)

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

DICAS GERAIS PARA DIVISÃO DE VOZES

E aê, galeraaaa!!!!!!!!! Que saudades de escrever por aqui! Após um tempo de férias do blog (mas não de descanso total, garanto hehe), estamos, enfim, de volta e COM FORÇA TOTAL!!! Eu realmente precisava de um tempo pra refletir e pensar um pouco mais sobre muita coisa e, em especial, sobre o que postar por aqui neste retorno. E, neste primeiro post pós-férias, resolvi falar sobre um assunto um tanto recorrente em nossas igrejas: divisão de vozes. Muita gente trabalha direta ou indiretamente com isso nas igrejas e muitas outras gostariam muito de poder fazê-lo. Sim. Eu mesmo conheço pessoalmente muita gente que gostaria de saber, ao menos em linhas gerais, como fazer uma divisão de vozes. Bom, meu desafio é tentar sintetizar isso por aqui. hehe É óbvio (mas preciso dizer!) que não é (MESMO) possível se fazer um verdadeiro curso de harmonização vocal, devidamente sistematizado e estruturado de maneira que, após visitar este post, alguém saia realmente formado como

LIDERANÇA MUSICAL NA IGREJA: FUNÇÕES E DESAFIOS

Introdução A importância da música na prática eclesiástica é algo inquestionável. E, para uma melhor prática musical eclesiástica, acredito ser de extrema importância se ter uma liderança bem estabelecida, de modo que tal prática possa ser conduzida rumo aos caminhos tencionados por um planejamento realizado por esta liderança. Contudo, há casos em que não há um líder oficialmente estabelecido. Acredito, porém, que sempre há um líder, mesmo que não se reconheça sua existência oficial. Mas há sempre alguém que influencia outros musicalmente e/ou que assume a responsabilidade pelas ações musicais da igreja. E, quando realmente não há, acredito que o potencial musical da igreja em questão poderia estar bem melhor e que, provavelmente, as ações musicais da referida igreja estão completamente perdidas, até que alguém se responsabilize por elas. Foi por isso que, dentre outras razões (como os pedidos que me foram feitos hehe), resolvi escrever esse post. Através dele, preten

DICAS PARA UMA BOA MINISTRAÇÃO

Após muitos estudos, reflexões e discussões sobre o assunto, resolvi, enfim, escrever um pouco do que penso sobre a chamada "ministração de louvor". Além de conviver com essa realidade de maneira muito próxima (o primeiro ministro de louvor que conheci foi meu próprio pai, com quem aprendi boa parte do que está aqui registrado), tenho tido o enorme privilégio de poder também ministrar louvor em minha igreja (ministro, junto com alguns mui amados irmãos, em nossa banda de jovens) e em outros lugares aos quais nossa banda é convidada a ir. E, por essa razão, me sinto bastante à vontade pra falar do assunto, tendo em vista que eu sou o primeiro alvo de cada palavra aqui registrada. Além disso, aqueles que trabalham comigo sabem, de perto, se as cumpro ou não, o que torna este post um desafio ainda maior. hehe Sendo assim, separei algumas dicas que colecionei ao longo dos anos e que acredito serem importantes em nossa prática musical eclesiástica. E, portanto, sem mais delong