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O CINZA NA MÚSICA CRISTÃ BRASILEIRA






Ontem, pude assistir a uma entrevista num programa da Revista Veja, transmitido no youtube mesmo, que contou com a presença de um dos grandes ícones da música cristã brasileira da atualidade. Um jovem (acredito que podemos chamá-lo de jovem ainda hehe) que eu admiro bastante como compositor e cujas músicas têm feito parte frequente de minhas playlists. Sua entrevista, contudo, chamou minha atenção a algo intrigante que tenho visto com frequência em nosso meio.

Em determinados momentos, por causa das perguntas que lhe eram feitas, percebia que ele fazia questão de usar uma linguagem mais "acadêmica" e/ou secular (digamos assim); quando perguntado sobre o fato de algumas de suas músicas recentes sequer mencionarem o nome de Cristo, ele simplesmente falava que era interessante isto, por falar de dramas e problemas existenciais que muitos, "independente de credos", experimentam e que isto conectava as pessoas com suas letras. E, quando questionado o que achava de as pessoas que não seguiam o Evangelho ouvirem suas músicas, com respostas igualmente "acadêmicas" também afirmava ser um fenômeno interessante (até pela necessidade que o homem tem "do Divino" (usando o termo que ele mesmo usou), e que, de algum modo, sentia-se feliz por estar conseguindo falar sobre o sofrimento que é pertinente a todo ser humano, "independente de credos".

Ok. É bem possível que você já entenda aonde estou indo agora. hehe Mas aliando tudo o que ouvi na entrevista ao que já tenho observado em suas últimas composições (e muito mais em outros compositores), algo me tem intrigado bastante. Existe certa tendência, apresentada como positiva, de fazer com que aquilo que, antes, era bastante claro e explícito se torne turvo e obscuro; o que, antes, era direto e objetivo tem se tornado metafórico (to sendo eufêmico aqui!) e abstrato; o que, antes, proclamava Cristo tem, agora, "dialogado" (é isto o que afirmam fazer) com diferentes credos e "existencialismos" (ele também falou bastante sobre "problemas existenciais", pra usar novamente suas palavras).

Não vejo problema no diálogo; acredito ser indispensável a uma boa abordagem apologética (defesa da fé). O próprio apóstolo Paulo fez isto no capítulo 17 de Atos. Mas há um momento no diálogo em que a proclamação da verdade, inevitavelmente, aparece (e assim deve ser). Tanto que, em determinado momento, Paulo começa a enfrentar a oposição pelo que havia dito.

Contudo, cada vez mais tenho percebido este desejo de se "fugir dos rótulos" (é o que alguns cantores/músicos têm dito) e de não ser mais definido como cristão ou secular. Tenho visto que o era preto ou branco tem virado cinza! E isto me preocupa. Na verdade, mesmo não podendo garantir a veracidade de algo que está ou não no coração de alguém, tenho pensado que o que há é um desejo de se conquistar novos mercados fora do "nicho gospel", mas sem perder o "bônus" já adquirido no meio "gospel" (quem segue o blog sabe que uso estas aspas sempre por não me agradar muito desta classificação hehe). Não estou dizendo que este é o desejo do jovem ao qual me referi no início. Até penso que não seja, mas esta tendência meio pseudo cult que tem surgido no meio musical cristão tem levantado cada dia mais "pensadores" assim. Gente que, no anseio de se tornar demasiadamente poético, acaba se tornando nebuloso, abstrato, vazio de significados e...  cinzento! Os tais têm se tornado, pra usar palavras do querido João Alexandre, cada dia mais "nem sim, nem não"!

O fato é que algo que, talvez, surja como uma iniciativa positiva contra rótulos e coisas do tipo acaba se tornando uma fuga covarde da proclamação e afirmação indispensável àqueles que se dizem discípulos de Cristo. E não estou falando aqui de se ter necessariamente o vocábulo "Jesus" em cada canção. E tampouco estou sendo contrário a composições chamadas "seculares" (também sou contra alguns rótulos, que fique claro!) feitas por cristãos. Eu mesmo tenho composições feitas para minha mulher e/ou que tratam de outros assuntos. Mas, se somos cristãos, cantamos, vivemos, falamos, compartilhamos aquilo que somos! E, mesmo que se decida que uma ou outra música ou até um álbum inteiro seja feito de canções "não-cristãs", prefiro, na verdade, continuar pensando que tudo o que um cristão faz é e deve ser "cristão", seja comendo, bebendo, etc (ver 1 Coríntios 10.31). Mesmo que se decida fazer algo assim... "secular", é natural e inevitável, reitero, que, em algum momento, o discurso precise ser claro como o sol do meio-dia!

É verdade também que algumas músicas podem (e devem) ser explicadas por seus compositores e intérpretes, pra que uma devida contextualização seja feita e o entendimento correto chegue ao ouvinte (já, em outras, deixe que a poesia fale por si ao "bom entendedor" hehe), mas precisamos parar de nos esconder por trás deste suposto "diálogo" e, neste mundo de relativismos que enfeitiçam e distorcem, "tomarmos partido" (não to falando de política! hehe) ao escolher anunciar, mesmo que cantando, quem Cristo é o que tem feito por nós! E, ao invés de canções que, muitas vezes, deprimem mais e afundam mais aqueles que já se encontram em desespero, mas sem oferecer-lhes a resposta, mostrar o Único Caminho, Verdade e Vida: Cristo Jesus!

Virá a hora e já chegou em que os verdadeiros adoradores do Pai precisarão fazer frente a este mundo volúvel por meio da Verdade Eterna e Constante, com canções que sejam, sim, poéticas, metafóricas (sem aspas hehe) e tudo mais, porém sinceramente cristãs e biblicamente fundamentadas! Lembremo-nos sempre: o Evangelho não é uma mensagem subliminar e tampouco se evangeliza por osmose. A Palavra é clara quando diz: "(...) Como crerão n'Aquele de Quem nada ouviram? E, como ouvirão, se não há quem pregue?"

Deixemos, pois, a área cinza de lado e façamos uma devida escolha quanto a quem somos e sobre o que queremos falar, viver e fazer. Somos preto ou branco? Quentes ou frios? Mornos? Hum... tenho plena certeza de que o SENHOR não Se agrada muito deste cinza aí (cf. Apocalipse 3.16).

Pra encerrar, quanto à entrevista, que até foi bem bacana, penso apenas que meu querido irmão perdeu uma excelente oportunidade de "gritar" pra todo mundo ouvir que Cristo Jesus é a razão de seu cantar e o Único capaz de solucionar os tais problemas existenciais de que ele mesmo falou. Infelizmente, meu amado e mui admirado irmão, optou por não ser nem preto e nem branco; apesar de vestido de preto, ele tava bem cinza naquele dia!


Em Cristo,
M. Vinicius (Montanha)


Comentários

  1. Como diz o meu neto, "CARACAS" . Gostei de sua opinião sobre essas musicas que se diz "gospel" que não se fala o nome de Deus. PARABÉNS, amigo,

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