Pensando no ambiente da igreja, de modo geral, vemos a presença de pisos mais altos e em certa posição de destaque na parte da frente de nossos lugares de reunião. Trocando em miúdos, aquele lugar no qual, dependendo da tendência litúrgica seguida, ficam os pastores, presbíteros e/ou diáconos, bispos, etc, ou onde ficam os músicos que tocam no culto ou na missa, enfim, falo daquele lugar elevado, para o qual todos os presentes voltam seus olhares. Alguns chamam estes lugares de “altar”, outros de “palco” (ainda conheço alguns mais que o chamam, por exemplo, de “plataforma”, mas estes não vêm ao caso neste momento hehe) e já presenciei muitas discussões por causa disso. Os que o chamam de “altar”, além de sacralizar o ambiente físico, via de regra rotulam os que rejeitam tal nomenclatura de “hereges”, “infiéis”, “não-bíblicos”, “moderninhos”, ou simplesmente os acusam de erro e os consideram menos espirituais. Por outro lado, os que preferem a nomenclatura “palco” acusam os demais de atraso cultural, radicais, ou simplesmente os acham obsoletos, ultrapassados e que cometem grande erro de interpretação bíblica. Bom, vamos pensar um pouco sobre isso.
Palco x Altar
No palco muita coisa acontece. É nele que cantores e bandas cantam e tocam suas músicas; é nele que atores encenam a vida das mais diversas personagens; é nele que dançarinos exploram seus movimentos corporais; é nele que apresentações de humor acontecem; enfim, é no palco que os shows acontecem. Os palcos servem pra que aqueles que se apresentam estejam em evidência e numa posição de maior visibilidade, de maneira que seu público possa enxergá-los do melhor modo possível.
No altar, duas coisas acontecem: sacrifício e entrega. É nos altares (de todos os credos e religiões) que, ao longo de milênios de história humana, animais e até seres humanos têm sido oferecidos como sacrifício; é nestes altares que as ofertas (de todo tipo) são entregues. Eles serviam (e ainda servem) para que a entrega total dos servos das divindades seja completamente expressada por meio das ofertas requeridas por suas crenças, mesmo que sejam vidas a serem exterminadas.
Aqueles que chamam aqueles lugares das igrejas de “altar” alegam que devemos dar ofertas ao Senhor, conforme ensinam as Escrituras. Tanto é que alguns são, por exemplo, contra o recolhimento de dinheiro (dízimos, ofertas, etc.) com aquelas cestinhas ou bolsas e bandejas, porque afirmam ser necessário ir até o altar para entregar a oferta. Há ainda quem diga que, na verdade, conforme ensina Romanos 12:1-2, nós somos as ofertas. E, já que nós temos que nos entregar como sacrifício vivo (não mais animais mortos devem ser oferecidos, mas os seres humanos vivo), é lá que aqueles que entregam a oferta têm que estar (cantores, ministros, pregadores, etc.).
Por sua vez, os que chamam de palco pouco se importam com estas questões. Até porque aquilo que realmente é ensinado pela Bíblia não pode ser negado (refiro-me à necessidade de se ofertar algo ao Senhor). Mas, de fato, em nenhum momento da chamada “era da igreja”, a Bíblia ordena algo referente a lugares específicos de adoração e por isso que digo que não se importam (me refiro aos exemplos positivos, tá? Rsrs). Muito pelo contrário. Até porque, antes de morrer e ressuscitar, o próprio Cristo falou disso, ao se referir à adoração “em espírito e em verdade”, afirmando que os verdadeiros adoradores O poderiam (e deveriam) adorar em qualquer lugar, desde que com sinceridade de coração (cf. Jo 4:24). Os que chamam as plataformas de igreja de “palco”, na verdade, estão apenas se utilizando de uma palavra contemporânea para espaços físicos como este, da mesma forma que o fazem todas as demais pessoas em qualquer lugar que tenha um espaço como este: restaurantes, bares, hotéis, auditórios, etc.
O peso que cada termo carrega
Talvez, o grande problema não esteja em si no nome dado ao espaço, e sim no significado que sua nomenclatura trará. Muito incomoda o termo “palco” por trazer consigo a ideia de “show”, de uma apresentação artística apenas. Aliás, esta é a ideia da palavra inglesa “show”: apresentar, mostrar algo. Eles argumentam, porém, que o culto não deve ter um foco humano. Ninguém deve estar em evidência no serviço santo ao Senhor. O foco precisa estar no Senhor e no ato de adorá-Lo. Logo, os palcos, as luzes e toda e qualquer coisa que faça quem quer que seja (além de Cristo) estar em evidência, de acordo com a interpretação de alguns, deve ser rejeitado TOTALMENTE.
O altar, por outro lado, traz consigo a ideia da entrega e da submissão e sujeição a Deus. Como se costuma dizer, o altar “é lugar de sacrifício, de entrega, de dor, de abnegação, etc.” Quando alguém fala em “altar”, inevitavelmente se fará referência a um lugar onde certa sensação “espiritual” será trazida, pois é um termo religioso (e bíblico), e não um simples termo usado até em barzinho. Além disso, argumenta-se também que, no altar, Deus está em evidência, e não aquele que entrega a oferta. E, afinal de contas, como já dissemos, usar algumas formas litúrgicas será algo que, para alguns, tirará o foco de evidência do Senhor.
Longe de mim dizer que a evidência cristológica do culto pode ser dividida com outrem. Não MEEEESMO!! O Senhor tem que estar no centro de tudo. E nossas vidas devem, sim, ser entregues (e não apenas no momento do culto público, mas a todo instante) como sacrifício ao Senhor, comendo, bebendo ou fazendo seja lá o que for (cf. Rm 12:1-2 e 1 Co 10:31). Ele não divide Sua glória com ninguém e nós não devemos querer fazer isso. É tudo d’Ele, por Ele e para Ele. E que assim seja para todo o sempre!! Mas trago alguns questionamentos.
Se ninguém deve estar em evidência, por que os pastores e pregadores não proferem seus sermões sentados no meio do povo? Por que, então, os que lideram o “momento de louvor” não o fazem de semelhante modo? Por que as peças de teatro cristão são também apresentadas nestes “palcos” ou “altares”, e não se afastam as cadeiras e lhe destinam espaço “igual” ao dos demais presentes (usei as aspas por entender que, mesmo num plano de altura igual, eles estariam ainda em destaque)? Estas são perguntas que bem podem parecer idiotas, estúpidas, óbvias ou até um tanto ofensivas pra alguns (outros podem até querer me bater por causa delas rsrsrsrs), mas nos fazem, sim, pensar um pouco melhor sobre o assunto, pois suas possíveis respostas nos mostrarão muita coisa.
Primeiro, sei que alguns dirão o óbvio: os pregadores precisam ser vistos, porque não tem lógica ficar ouvindo alguém que não se vê (os apóstolos usavam lugares de maior visibilidade para suas mensagens); os líderes de louvor (não digo “os músicos em geral”, porque, de fato, há muitas igrejas em que eles ficam sentadinhos, perto do povo, ou escondidos hehe) precisam também ter contato visual com aqueles a quem ministram, pois estão lhes dirigindo a palavra, o que é, assim como no caso dos pregadores, uma simples e óbvia consequência de um mínimo de conhecimento sobre o senso comum da retórica e do falar em público e ao público; usar o exemplo dos atores, então, se tornará ainda mais óbvio, porque as peças precisam ser vistas; acrescentarei mais outro exemplo. O que dizer, então, das chamadas “participações especiais” ou “oportunidades” ou ainda “solos de APRESENTAÇÃO”? Sei bem que há aqueles que separam tudo isso do verdadeiro “momento de louvor” do culto, mas, se falamos em “culto”, não deveria ser tudo para o louvor de Deus? Quer dizer, então, que temos diferentes momentos: em um apenas é que se louva a Deus, mas em outros se assiste a apresentações artísticas e/ou a palestras e sermões humanos? NÃO!!!!!!
De fato, há, sim, momentos de apresentação em um culto. E isso está errado, então? Também penso que não. À luz da Escritura, em nossas vidas, tudo (veja que reiterarei o termo), TUDO MESMO, deve ser para o louvor do Senhor e isto também deve incluir nossas “apresentações artísticas”. Mas, sem querer entrar na discussão entre show e culto (isto daria uma oooooutra postagem hehe), voltemos apenas ao culto e pensemos um pouco mais a seu respeito.
As apresentações artísticas no culto devem também ser oferta ao Senhor e servir de edificação aos demais irmãos presentes. É isto que ensina a Escritura (citar Efésios 5:18-20). Estes momentos devem também servir para abençoar as pessoas, pois isto agrada ao Senhor e é também uma maneira de adorá-Lo (e ainda tem gente que acha que só cantar e orar é que são formas de adoração!). Você pode até não gostar que eu chame estes momentos de “apresentações artísticas”, mas é isto que são, afinal de contas música, teatro e dança são o quê?
Muita gente pode até não querer admitir, mas é fato e é verdade que, sim, as pessoas usam o negócio lá (palco, plataforma, piso elevado, altar, ou seja lá o que for) pra que os que lá sobem estejam (sim, é verdade!!) em maior evidência do que aqueles que estão sentados lá embaixo. É ou não é? Rsrsrsrs E isto, biblicamente falando, é um problema? Bom, até certo ponto, não. Mas, a partir deste “certo ponto”, sim. Vou explicar melhor.
Todo trabalho de liderança inevitavelmente trará maior visibilidade para os envolvidos. Ao longo de toda a Bíblia, podemos ver líderes que Deus levantou e o quanto eles recebem papéis de destaque na obra que Deus realiza por meio deles. Neste sentido, podemos, sim, dizer que o trabalho daqueles que ministram à igreja os coloca em posição de maior evidência e de maior exposição. Como se costuma dizer, há ministérios que funcionam como se estivessem numa vitrine; cantores, ministros, pregadores, dentre outros, estão sempre mais expostos que os demais. Contudo, esta exposição deve trazer-lhes grande peso de responsabilidade. Aqueles que ministram à igreja precisam entender que a cobrança sobre eles é bem maior, conforme ensinam as Escrituras. E esta cobrança vem da parte dos homens, que acabam por tê-los como referência e modelo (tanto é que, quando alguns cometem algum erro mais notório, o escândalo é enorme), mas, principalmente, da parte do próprio Deus. Ele mesmo disse isso com relação aos que exercem ensino na igreja (cf. Tiago 3:1).
O fato é que as funções de liderança e de ministração pública são muito importantes e representam grande privilégio. É uma honra muito grande poder desempenhar este trabalho da parte de Deus, assim como era, por exemplo, uma grande honra ser um dos levitas sacerdotes, no tempo da Lei. Mas estas tarefas, dentre suas várias e enormes responsabilidades, devem nos fazer sempre atentar ao fato de que os que ela desempenham não são superiores aos demais. É preciso ter consciência de nosso papel enquanto ministros; temos que assumir, de fato, nosso lugar de líderes, temos que agir com ousadia e bom ânimo, pois Deus é conosco, mas temos que sempre nos lembrar de que somos apenas servos do Senhor, tanto quanto os demais. De modo que aquele que ministra precisa, sim, estar em maior evidência, pois está abençoando pessoas ao se dirigir a elas e estas pessoas devem dedicar-lhe, sim, a devida atenção e por isso a necessidade de um lugar em que o que ministra seja melhor visto. Contudo, o tal ministro deve estar sempre com um coração humilde, entendendo que só está ali por causa da Graça de Deus. E está ali apenas como um mensageiro.
Os verdadeiros ministros sobem naquele lugar não por buscarem um palco para apresentarem sua destreza virtuosística instrumental ou vocal, no caso da música, por exemplo. Eles podem (e devem) até se utilizar de sua maior habilidade, mas a oferecendo como sincera oferta ao Senhor e sem nenhum desejo de que ela traga aplausos para si, mas que tudo convirja e seja direcionado ao Senhor Jesus. Eles não querem conquistar um público para si, mas entendem que os que ali estão devem olhar para uma Pessoa apenas, Jesus Cristo. E assim também devem ser os dançarinos, os atores e todos os demais artistas da igreja. Desse modo, a iluminação e os mais diferentes recursos podem até ser utilizados, mas a glória será sempre entregue ao Senhor. É bem verdade que muitos discordam do uso de luzes num culto, sei disso. Mas, se olharmos pra 30 ou 40 anos atrás, veremos que muitos também discordavam do uso de baterias e guitarras elétricas, por afirmarem que representavam “o mundo entrando na igreja”.
São palavras bastante semelhantes às usadas hoje quanto a luzes e alguns estilos musicais, não? Bom, só sei que o tempo passa (e como passa) e vejo as luzes (assim como a bateria, a guitarra e os estilos) como meros recursos culturais e, portanto, culturalmente construídos, o que os faz simplesmente atuais ou defasados, contemporâneos ou antigos. E assim também enxergo o uso do chamado “palco”.
Conclusões
Quer chamar de palco? Chame. Quer chamar de altar? Chame. Honestamente, pra mim, isto não faz a menor diferença. Contudo, a forma como este lugar será visto e usado é que realmente importa. Quer usar um palco? Use. Quer usar um altar? Use. Mas use devidamente. Chame como quiser, mas use como a Bíblia te ensina a usar. Use este lugar entendendo que você é apenas um mero mensageiro, um simples instrumento nas mãos do Artista dos artistas, d’Aquele que criou todas as coisas e a Quem tudo deve ser dedicado. E digo mais: se você chama de altar, não reclame de quem chama de palco. E, se você chama de palco, não “tire onda” com quem chama de altar (hum... confesso que já fiz muito isso hehe, mas não faço mais!).
Concluo dizendo, então: artistas do Senhor, vamos adorá-Lo e vamos ministrar a Seu povo santo com tudo o que temos de melhor. Vamos fazer nossas apresentações não para que nós sejamos apresentados às pessoas, mas para que o Nome Precioso do Verbo Eterno, Jesus, seja levantado e que Ele esteja na vitrine maior. Que tudo seja entregue a Ele e que nosso trabalho como Seus artistas seja para levar outras pessoas mais a também dedicar tudo o que possuem e tudo o que elas são Àquele que é o Único Digno. A Ele, pois, todo o nosso louvor para todo o sempre.
Deixo a todos uma canção que muito me abençoa e me acompanha todos os dias, desde que a ouvi pela primeira vez. Reflitam nela e que possamos viver o que é apresentado por ela.
Abraços a todos e até a próxima!
Em Cristo,
M. Vinicius (Montanha)
Gosto do txt de Romanos 14. "Aceitem o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos." (v.1 NVI).
ResponderExcluirDeus continue abençoando e orientado vc, meu amigo e irmão! Forte abraço!
hahaha Verdade, João. Ótima lembrança. S td mundo pensasse assim, não se perderia tanto tempo brigando (de verdade) pq um chama de um jeito ou outro de outro e ainda, talvez, até não se chamaria de um ou outro jeito, não sei. Só sei q a discussão existe e é ainda bastante viva em muito lugar e por isso q escrevi sobre ela. Abração!
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