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TÉCNICA OU ESPIRITUALIDADE?



Introdução

Uma das batalhas mais ferrenhas que tenho escutado ao longo de meus anos trabalhando com música e arte em geral na igreja é aquela entre a técnica e o espiritual. Tenho sempre ouvido debates e discussões tentando a todo custo provar que um dos dois (a técnica ou a espiritualidade) deve prevalecer em detrimento do outro.

Com este post eu pretendo expor aquilo que penso a respeito, mesmo que em linhas gerais, mas tenho certeza de que esta discussão ainda vai durar um bocado. rsrsrs Também acredito que muita gente vai discordar do que tenho a dizer, mas, como de costume, fico traaaaaanquilíssimo (hehe) e desejo apenas que se pense um pouco mais a respeito, tá? 

Afinal de contas, a prática musical (e artística) na igreja é uma questão de técnica ou deve ser encarada como algo espiritual, já que é o Espírito Santo quem deve guiar nossas ações enquanto igreja? 


O que é "técnica"?

Primeiro, é preciso compreender, ao menos por um pouco, o que seria "técnica". Não entrando em detalhes, talvez, exaustivos de linguística e de historiografia geral, podemos dizer que "técnica" faz referência à maneira de se fazer algo ou alguma coisa. Por exemplo, quando se vai construir uma ponte, é preciso se utilizar de uma série de técnicas de construção civil, para que esta ponte não caia no minuto seguinte à sua construção. De semelhante modo, para se ministrar uma boa aula ou palestra, há várias técnicas usadas quanto ao falar em público, à retórica e a várias abordagens pedagógicas a serem desenvolvidas no momento. Assim também acontece em várias outras áreas, pois a técnica representa o "como fazer" algo. E, obviamente, é assim também nas artes.

Para que alguém toque um instrumento, este alguém precisará conhecer a maneira que pega no instrumento em questão, o modo como os seus sons são emitidos, dentre outros aspectos que nada mais são que a técnica daquele instrumento. É bem verdade que nem todos são excepcionais na técnica instrumental (ou em qualquer outra), já que somos seres humanos diferentes e com diferentes interesses e, consequentemente, diferentes habilidades adquiridas, mas, NINGUÉM consegue fazer seja lá o que for completamente sem alguma técnica. E faço questão de mencionar que, ao dizer "técnica", é claro que não estou me referindo à concepção elitista e exclusivista do termo, que afirma existir técnica boa ou ruim e que ainda diz que Fulano ou Sicrano não têm técnica, simplesmente porque não se adequam aos padrões etnocentricamente estabelecidos pelos valores artísticos conservatoriais e eruditos. Não meeeeesmo!!! Não to falando disso. Estou me referindo à maneira de se fazer algo. Por exemplo, é impossível tocar piano (a menos que seja de modo adaptado por causa da existência de alguma dificuldade física ou algo do tipo) sem usar os dedos. Pelo menos esta não é a ideia original do instrumento e de quem o criou. Então, a técnica pianista vai "exigir" daquele que tenciona tocá-lo que ele coloque seus dedos sobre as teclas, pressionando-as, pois é assim que o som será emitido. Reitero: não to entrando em detalhes de escola A ou B ou de postura X ou Y, mas, para se tocar um instrumento é, sim, preciso ter técnica, é preciso saber o que fazer e como fazer. E, a despeito do que muitos pensam e das muitas brincadeiras feitas no meio musical eclesiástico, essa necessidade se aplica também aos cantores, é claro. rsrs 

O que quero dizer, trocando em miúdos, é que ninguém vai entrar, por exemplo, num ministério de louvor (ao menos não deveria) pra ser o baterista, se nunca na vida chegou perto desse instrumento. Ele vai precisar aprender um mínimo de como tocar (lembrando: "como fazer"), não é mesmo? E é isso que torna o trabalho ministerial com música na igreja tão mais complicado, em muitas vezes, do que as demais ações ministeriais. Mas... e o Espírito, onde fica nisso tudo?


O que é "espiritualidade"?

Bom, ao falarmos em "espiritualidade", estamos, é claro, fazendo menção a algo relacionado a "espírito", não? E, neste caso, não nos referimos a qualquer espírito, mas ao Soberano Espírito Santo de Deus. No que diz respeito à igreja, entendemos que todas as nossas ações devem ser guiadas pelo Espírito de Deus. Assim disse Paulo, em Efésios 5:25: 

"Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito."

Sendo assim, já que vivemos, sim, neste Espírito, pois Ele habita em nós, os que cremos no Senhor (cf. 1 Coríntios 3:16), devemos, então, ser guiados por Ele sempre e em todas as nossas ações. E, a partir disso, as decisões realizadas na igreja são (deveriam ser, né? rsrs) guiadas pelo Espírito; as reuniões que fazemos precisam ser guiadas pelo Espírito; as músicas que escolhemos devem ser segundo o Espírito e para Adorá-Lo e abençoar à congregação; enfim, gosto muito de uma frase que sempre ouvi de meu pai: "Na vida de um crente, tudo é espiritual." Concordo com isso em gênero, número e grau.


Misticismo exacerbado x Secura espiritual

O grande problema, em minha opinião, é que, ao longo dos tempos, tem sido atribuído um bocado de coisa (incluindo alguns absurdos) ao Espírito, afirmando ser Ele o responsável por muita coisa que, reitero, em minha opinião, são fruto do homem e de suas emoções do momento, e não do Santo Espírito de Deus. E, assim, o Espírito acaba recebendo injustamente a fama de um Ser irresponsável, desorganizado e medíocre em suas ações (supostas ações, né? rsrsrs). E todos nós sabemos que isto NÃO é verdade. Deus não é Deus de desordem e desorganização (cf. 1 Coríntios 14:26-33). Há muita espontaneidade louca sendo atribuída ao Espírito e sendo chamada de "espiritualidade". 

Por outro lado, muitos têm "maqueado" seus valores meramente tecnicistas ao se esconderem atrás da afirmação (a princípio, correta, mas muito mal aplicada em muitas ocasiões) "queremos fazer o melhor para o Senhor". Estes têm feito um verdadeiro terrorismo com todos aqueles artistas, músicos de igreja, que não estão, por exemplo, matriculados num curso ou numa escola de música. Também penso que não seja assim.

Desse modo, presenciamos esta ferrenha oposição entre um misticismo torto, exagerado e uma "secura" espiritual. Os que dizem "o lado espiritual é mais importante" só estão querendo arrumar uma desculpa para não se prepararem devidamente para a obra do Senhor, mas os que dizem "tem que estudar música" estão, na verdade, "secos" espiritualmente, engessando tudo e simplesmente, em muitas ocasiões, buscando apenas o seu lugar de status nos palcos eclesiásticos espalhados país afora; estão apenas querendo compensar, talvez, uma frustração de carreira secular com a música que deveriam praticar para o Senhor em Sua igreja. Ou... sei lá... querendo compensar, de alguma forma, alguma outra frustração. Não posso negar também que há aqueles muito bem intencionados, mas acredito que devem ser um pouco mais tolerantes também, mas só até certo ponto, claro. hehe Como poderíamos resolver isso tudo? Bom, continuarei dizendo o que penso.


Espiritualidade genuína = Técnica cada vez melhor

Acredito totalmente que, conforme já disse, tudo é espiritual na vida de um cristão. Há todo um mundo que não enxergamos que influencia por demais todas as nossas ações. E, apesar de não podermos vê-lo, não devemos dele nos esquecer. O Espírito está em nós, os que cremos, e entre nós. Tudo deve ser feito para Ele e por Ele. E eu acredito, sim, que Ele nos estimule a fazer algo cada vez melhor ao Senhor.

Quando estamos, digamos assim, espiritualmente saudáveis, inevitavelmente, o Espírito nos influenciará de tal forma que estaremos cada dia mais amando a obra do Senhor, dedicando-lhe tempo, priorizando os afazeres ministeriais (seja quais forem) e querendo fazer sempre o melhor para o Senhor. Se percebemos que há algo em que podemos melhorar, lutaremos por isso, entendendo, sim, que devemos melhorar. Buscaremos, sim, um aperfeiçoamento técnico e o priorizaremos. Mas, por outro lado, se estamos saudáveis espiritualmente, conforme dito há pouco, iremos entender, compreender e amar (mesmo discordando, é claro) uns aos outros quando um ou outro irmão não estiver praticando isto. E, assim como Paulo nos ensina, iremos exortá-lo com espírito de brandura e mansidão (cf. Gálatas 6:1).


Considerações Finais

Se formos seguir aquilo que a Escritura nos ensina, veremos que este debate, na verdade, é resolvido apenas e tão-somente com uma dose de equilíbrio. Isso porque, como já dissemos, há muita gente com suposta "espiritualidade" que, na verdade, quer apenas uma desculpa pra relaxar no serviço ministerial e ainda se coloca num pedestal de mais espiritual do que os outros, o que também fere a Escritura e entristece o Espírito de Deus. E há também muitos outros que só querem "tocar o terror" nos que não são iguais a eles e que não possuem seu interesse virtuosístico secular.

Portanto, não vamos nos esquecer de que o Espírito é o nosso Guia em nossos ensaios, cultos e ministrações e vamos procurar agradá-Lo com o nosso melhor. Vamos, então, nos dedicar, buscar o aperfeiçoamento ao máximo, mas vamos ser pacientes uns com os outros, entendendo os diferentes "ritmos" de cada um quanto a aprendizado, rotina de vida e tudo mais. 

É preciso ensaiar? Sim. Os ensaios são INDISPENSÁVEIS! É preciso buscar conhecer mais o seu instrumento, mesmo que ele seja sua própria voz? Sim. E isto não pode ser feito apenas dentro de uma escola especializada. É possível estudar música e aprender música em casa também. Cantores devem aprender as letras das músicas, ouvindo-as em casa, além de também poderem (e deverem) cuidar de suas vozes, pra não chegarem roucos na hora do culto, por exemplo. Se tiverem um pouco mais de condições, podem, sim, procurar um professor de técnica vocal, mas isto não é tudo. E digo o mesmo aos instrumentistas. Não adianta estudar pra caramba seu instrumento e viver errando cifra por não ouvir e aprender as músicas em casa. Isto também é falta de dedicação e, consequentemente, não agrada ao Senhor.

Enfim, quando estamos bem com o Senhor, buscando a leitura da Palavra e vivendo constantemente tempos regulares de oração e comunhão com Cristo, naturalmente desejamos que tudo seja cada vez melhor pra Ele, não é mesmo? Logo, vamos entender que o Espírito nos governa e que, por isso, devemos buscar entregar-Lhe o melhor cada dia mais, seja em nossas ações artísticas ou não. Ao Senhor, portanto, tudo o que temos, somos e podemos fazer!

Abraços a todos e até o próximo post!


Em Cristo,
M. Vinicius (Montanha)





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