Pular para o conteúdo principal

CARTA AOS DECEPCIONADOS

Imagem retirada de: cleofas.com.br


De maio a dezembro de 2014, vivi um dos mais difíceis momentos de minha caminhada enquanto cristão e também como indivíduo, pois, pela primeira vez em toda a minha vida, estive no grupo dos chamados “desigrejados”. Amanhã, fará exatamente um ano que saí da igreja em que eu estava, entrando num período de muita tristeza, não posso negar. E como foi difícil pra mim!!! Os poucos que estiveram perto de mim durante este período e que foram verdadeira família na fé para comigo e minha esposa sabem o quanto foi doloroso e sofrido estar durante este tempo sem uma casa. 

Contudo, Deus, que tudo sabe e vê, tinha um propósito nisso tudo e me permitiu aprender muita coisa durante esse tempo. E, não! Eu NÃO fiquei afastado do Evangelho durante estes longos meses. E não porque eu seja melhor que qualquer outro que já tenha feito isto, mas porque a Graça do Senhor me preservou. Infelizmente, minha situação era um tanto delicada ministerialmente falando (não, eu não cometi os “tão louvados” pecados, como sexo, adultério, roubo, etc, nos quais a maioria logo pensa quando algum pastor sai de alguma igreja!) e também por isso não me filiei oficialmente a igreja alguma em minha cidade (Natal-RN) logo de imediato. É que nós não podíamos mesmo nos filiar a outra igreja logo “de cara” por uma série de decisões que precisaríamos tomar quanto à visão ministerial que gostaríamos de seguir e também porque leva um certo tempo até se achar uma nova igreja, não é mesmo? Apesar disso, eu e minha esposa estivemos visitando outras comunidades cristãs e tivemos a oportunidade de comungar com muitos irmãos em Cristo, amigos de longa data e foi um tempo que, sim, trouxe muitos aprendizados, além do descanso, que há muito não tínhamos. Quem acompanha o blog desde essa época, consegue lembrar bem que estivemos em período sabático, conforme anunciado. E, por esse lado (do descanso), foi muito bom pra nós. Mas foi, de fato, um tempo beeeem difícil.

Então, ao longo desse tempo difícil, tive contato com muita gente falando sobre suas queixas com as igrejas e suas decepções no ministério e, infelizmente, a maioria delas era constituída de pessoas que trabalhavam com música na igreja. Por isso, na época, resolvi escrever algo, mas entendi que não devia publicá-lo naquele momento. Hoje, um ano após tudo ter acontecido, estando eu já filiado a uma nova comunidade cristã, acredito ter chegado o momento oportuno de publicar aquilo que escrevi. Não queria ser mal interpretado naquela época e por isso que esperei até agora. Mas, preservado o texto original, eis minha CARTA AOS DECEPCIONADOS:



Faz 28 anos que habito o ambiente eclesiástico contemporâneo e cada dia mais me convenço de algumas coisas. A Igreja é um lugar no qual você muito se doa, mas, em muitas ocasiões, pouco recebe. Ela é um lugar onde aqueles que você mais amou, menos apreço demonstram. A Igreja tem sido também, ao longo desse tempo, um lugar onde as pessoas esperam que você muito se doe fisicamente, mentalmente, espiritualmente, relacionalmente e financeiramente, mas pouco se dispõem a fazer o mesmo. É claro que, como em tudo, há suas exceções, mas a Igreja (principalmente a brasileira), de um modo geral, tem sido um dos lugares que mais afasta as pessoas, com seu "repelente" espirituoso, que de "espiritual" nada tem. E aqueles que dela fazem parte (também preservadas as devidas exceções) têm sido os que mais ferem aqueles que em nada se diferem deles mesmos em falibilidade.

Decepcionado? E como não? Sou humano. Triste? Como qualquer outro. Surpreso? Não, nem um pouco. rsrsrs Sei, perfeitamente, que os que fazem a Igreja são tão imperfeitos quanto eu mesmo. Desisto da Igreja, então? Claro que não.

Desistir da Igreja é desistir do próprio Cristo, pois ela é o Seu corpo. Claramente, não me refiro às meras instituições e organizações de cunho denominacional e estatístico, mas ao organismo vivo, composto por todos aqueles que verdadeiramente creem no Senhor Jesus, espalhados por todo o mundo, independente das placas e rótulos de igrejas que lhes circunvizinham. Desistir da Igreja é desistir do hospital, mesmo estando em vias de morte. Sim. A Igreja é (ou deveria ser) este hospital, que cura e trata todos aqueles que possuem a mesma doença que eu mesmo também possuo: a pecaminosa imperfeição. Mas, para o tratamento, é preciso encontrar um hospital disposto a lhe atender, infelizmente, pois nem todos aceitam seu plano de saúde. Tudo isso apenas e tão somente por ser um lugar cheinho de gente imperfeita!

Apesar disso tudo, eu ainda acredito na Igreja, pois acredito no Cristo e em Sua Graça, que transforma vidas. Eu ainda acredito que há igrejas que não pensam apenas em seu próprio lucro e em aparências externas. Eu ainda acredito que há pastores que não pensam apenas em dinheiro e que, de fato, se ocupam com o cuidado das pessoas, e não apenas com o seu uso. Eu ainda acredito em pastores que não são apenas chefes, tiranos e/ou interesseiros. Eu ainda acredito em pastores e líderes que não deixam de confrontar (saudavelmente) o pecado e o erro apenas pra ficar "bem na fita" ou por causa do tamanho do dízimo dos irmãos e que não têm "dois pesos e duas medidas", acobertando erros. Eu ainda acredito que há igrejas que lhe recebam independente do que você possa lhes oferecer. Eu ainda acredito haverem cristãos dispostos a lhe amar (não apenas lhe usar), mesmo quando você discorda deles. Eu ainda acredito que existam igrejas nas quais o status dá lugar à humildade e a fama ao louvor do Único Merecedor. Eu ainda acredito em igrejas que são realmente uma família (e não uma empresa, com metas e objetivos temporais), que ama (de fato e de verdade, e não apenas de boca) e apoia para sempre, não importando o que venha a acontecer. Eu ainda (sim, ainda!) acredito haver igrejas que se ocupam com a pregação do Evangelho como o mais importante e que se comprometem com o outro, sabendo que cada um de nós é igual em importância (a despeito dos títulos, que de nada valem) e que somos TODOS (inclusive os possuidores dos títulos) ovelhas, pequeninas, do Mesmo e Único e Supremo e Soberano Pastor, Jesus Cristo!

Sou um sonhador? Um iludido? Um utópico? Não. Sou apenas alguém que tem aprendido, a duras penas, a viver e a depender, a repousar e a nunca deixar de acreditar na Soberana Graça de Deus. É ela, a Maravilhosa Graça, que permite que alguém como eu, um pecador muito maior do que tudo isto citado, seja ainda chamado "filho" por Aquele que ainda me ama, apesar disso tudo!

É por ainda crer na Maravilhosa Graça que ainda acredito na Igreja do Senhor! Logo, espero muito que você, que teve paciência de ler isto até o final, também continue a acreditar. Que o Senhor lhe dê forças pra que você JAMAIS desista da Igreja que pertence a Ele. Você pode até mudar de CNPJ de vez em quando (não é pecado, apesar de como tratam os que o fazem!), de preferência, o mínimo possível, mas NUNCA deixe de procurar (até encontrar!) um lugar ao qual você possa chamar e experimentar, de fato, como família.



Pois bem! Era isto que estava no meu coração e que eu queria compartilhar. De fato, hoje, um ano depois de tudo, posso dizer que, enfim, encontrei um lugar ao qual posso chamar e experimentar, de fato, como família. E fico muito feliz em saber que Deus, em Sua infinita soberania, já sabia de tudo o que eu passaria e de tudo o que aconteceria, trazendo-me até aqui, ao lugar em que me encontro hoje. Dou graças a Ele por isso e por ter me sustentado durante todo esse tempo. E dou também graças a Ele por minha família, que sempre esteve ao meu lado INCONDICIONALMENTE!! Além deles, infelizmente, posso citar apenas poucos, que também estiveram comigo a todo instante. Foram poucos, é verdade, mas valeram muito mais que multidões! 

Portanto, se você se encontra assim, decepcionado, zangado, triste e até sem acreditar que é possível viver igreja genuinamente, saiba que É, SIM, POSSÍVEL!! E nunca se esqueça de que A IGREJA É UM PROJETO DE DEUS e, por mais mais falhas que todos nós tenhamos, vale a pena viver saudavelmente a Igreja de Cristo, não deixando de nos congregar, como é costume de alguns (Hebreus 10:25). Talvez, você nem esteja decepcionado com sua igreja, mas com seu ministério. Muitas vezes, contudo, este é apenas o início de uma decepção maior com a igreja como um todo e, por isso, é preciso cuidado. Nós todos sabemos o quanto ministérios de louvor causam problemas, infelizmente. E não apenas eles, mas ministério, em geral, é algo complicado, pois envolve pessoas, não é? Mas que NUNCA nos esqueçamos de olhar para Cristo e de confiar e esperar apenas n'Ele. Ele sabe todas as coisas e estará cuidando de nós durante todo o tempo! E, por experiência própria digo: VALE A PENA ESPERAR NO SENHOR!! Por isso, NÃO DESISTA!!! Siga SEMPRE o ministério que Deus te chamou pra viver!! E, no nome do Senhor Jesus, não permita que seu amor pela obra (e mais ainda pelo Senhor da obra) diminua por causa de quaisquer problemas que surjam. Lembre-se: VALE A PENA ESPERAR NO SENHOR!!

Grande abraço e que Deus nos dê sempre um novo ânimo, independente das pauladas que levamos!




Em Cristo,
M. Vinicius (Montanha)



Ps.: Se alguém precisar conversar mais a respeito, peça ajuda a alguém próximo e de confiança, por mais difícil que pareça, mas... NÃO DESISTA!! E, se não encontrar alguém próximo, estou (e sempre estarei) à disposição, mesmo que on line. Sei o que é não ter a quem recorrer, infelizmente. Mas NÃO DESISTA!!!

Comentários

  1. Grande Montanha! Quanto tempo hein! Que bom saber notícias suas e que essas são notícias boas!!!! Cara, acho que muitos estavam esperando esse post. eheheh. Não é fácil passar por isso, mas acho que muitos (e me incluo nisso) já passaram ou estão enfrentando algo parecido, mas que se une em uma palavra: DECEPÇÃO. Mas, apesar disso, nós temos um Deus que é bem maior que tudo isso. A Sua graça nos basta! Mas como é difícil viver sob esta graça, apenas esperando os planos de Deus. Que o Eterno te abençoe ricamente nessa sua "nova" jornada. Desejo também aos amigos leitores que NUNCA desistam da Igreja do Senhor!

    Ass: Rodrigo Augusto (Digão)
    Natal/RN - Brasil

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amém, grande Rodrigo! É verdade... tanta gente q, infelizmente, tem q lidar c isso. Mas... que JAMAIS venhamos a desistir, descansando na Graça e lutando apenas e tão somente por meio d'Ela. Abraço!

      Excluir
  2. Recebemos essa carta abençoada e compreendemos as dificuldades que se passam. Tb já nos doamos demais, apenas pra levar pedradas e sofre preconceitos. Mas o espirito de Deus nos consola, e Deus sempre enxerga o melhor de nós. Tudo vê e sempre nos honra com sua graça sem tamanho!! Não podemos desistir mesmo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade, graaaande Banda Kruyssen!! Devemos nos manter firmes e inabaláveis, por mais difícil q pareça, sempre lutando com as armas da Graça. Q o Eterno continue abençoando vcs e q os use poderosamente no testemunho do Reino!! Abraço, queridos! Contem com minhas orações e fico aqui, msm um pouquinho distante, acompanhando o q Deus tem feito em vcs e através d vcs!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

DICAS GERAIS PARA DIVISÃO DE VOZES

E aê, galeraaaa!!!!!!!!! Que saudades de escrever por aqui! Após um tempo de férias do blog (mas não de descanso total, garanto hehe), estamos, enfim, de volta e COM FORÇA TOTAL!!! Eu realmente precisava de um tempo pra refletir e pensar um pouco mais sobre muita coisa e, em especial, sobre o que postar por aqui neste retorno. E, neste primeiro post pós-férias, resolvi falar sobre um assunto um tanto recorrente em nossas igrejas: divisão de vozes. Muita gente trabalha direta ou indiretamente com isso nas igrejas e muitas outras gostariam muito de poder fazê-lo. Sim. Eu mesmo conheço pessoalmente muita gente que gostaria de saber, ao menos em linhas gerais, como fazer uma divisão de vozes. Bom, meu desafio é tentar sintetizar isso por aqui. hehe É óbvio (mas preciso dizer!) que não é (MESMO) possível se fazer um verdadeiro curso de harmonização vocal, devidamente sistematizado e estruturado de maneira que, após visitar este post, alguém saia realmente formado como

LIDERANÇA MUSICAL NA IGREJA: FUNÇÕES E DESAFIOS

Introdução A importância da música na prática eclesiástica é algo inquestionável. E, para uma melhor prática musical eclesiástica, acredito ser de extrema importância se ter uma liderança bem estabelecida, de modo que tal prática possa ser conduzida rumo aos caminhos tencionados por um planejamento realizado por esta liderança. Contudo, há casos em que não há um líder oficialmente estabelecido. Acredito, porém, que sempre há um líder, mesmo que não se reconheça sua existência oficial. Mas há sempre alguém que influencia outros musicalmente e/ou que assume a responsabilidade pelas ações musicais da igreja. E, quando realmente não há, acredito que o potencial musical da igreja em questão poderia estar bem melhor e que, provavelmente, as ações musicais da referida igreja estão completamente perdidas, até que alguém se responsabilize por elas. Foi por isso que, dentre outras razões (como os pedidos que me foram feitos hehe), resolvi escrever esse post. Através dele, preten

DICAS PARA UMA BOA MINISTRAÇÃO

Após muitos estudos, reflexões e discussões sobre o assunto, resolvi, enfim, escrever um pouco do que penso sobre a chamada "ministração de louvor". Além de conviver com essa realidade de maneira muito próxima (o primeiro ministro de louvor que conheci foi meu próprio pai, com quem aprendi boa parte do que está aqui registrado), tenho tido o enorme privilégio de poder também ministrar louvor em minha igreja (ministro, junto com alguns mui amados irmãos, em nossa banda de jovens) e em outros lugares aos quais nossa banda é convidada a ir. E, por essa razão, me sinto bastante à vontade pra falar do assunto, tendo em vista que eu sou o primeiro alvo de cada palavra aqui registrada. Além disso, aqueles que trabalham comigo sabem, de perto, se as cumpro ou não, o que torna este post um desafio ainda maior. hehe Sendo assim, separei algumas dicas que colecionei ao longo dos anos e que acredito serem importantes em nossa prática musical eclesiástica. E, portanto, sem mais delong