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MÚSICO DE IGREJA TAMBÉM É MÚSICO


Ao longo de muito tempo, tenho ouvido sempre a expressão "músico de igreja" para se referir àqueles que praticam a música no ambiente eclesiástico. Esta tem sido uma expressão tão comum que eu mesmo, quando necessário, já dela me utilizei algumas vezes. Contudo, percebo nela alguns problemas. Em primeiro lugar, a ideia que se passa, ao meu ver, é a de que os chamados "músicos de igreja" são diferentes dos outros músicos. E eles são? Ok. No que diz respeito à humanidade e aos aspectos individuais do ser TODOS somos bastante diferentes, músicos ou não. Mas, no que se refere à práxis musical, não vejo essa diferença que, talvez, se queira evidenciar com o termo. Outro problema que percebo é que, às vezes, quando se utiliza essa expressão, se quer passar a ideia de que o "músico de igreja" o é apenas neste contexto e pronto. Se o colocássemos para atuar num outro contexto, ele não conseguiria. Bom, não é bem assim, pelo menos não em todos os casos.

Dito isto, gostaria de aproveitar esse post para explicitar a todos a razão pela qual digo, em letras garrafais que MÚSICO DE IGREJA TAMBÉM É MÚSICO. É bem possível, como de costume, que muita gente discorde do que tenho a dizer, mas acredito que isso serve para enriquecer ainda mais nossa discussão. Logo, quer discordar? Discorde, então. Mas discorde com ideias bem fundamentadas, ok? haha Também acho necessário frisar que meu intuito não é jamais generalizar o que direi. Isso porque, como em tudo na vida, há casos e casos. Mas, de maneira geral, acredito que podemos dizer o que mostrarei a seguir. Bom, aí vamos nós.


O músico de igreja tem prazer em sua prática

Tirando as exceções, é claro, tenho percebido naqueles que atuam no seio da igreja o prazer em tocar e/ou cantar. Por mais que, assim como em todo lugar, haja um momento ou outro de desagrado por "n" razões que não serão listadas aqui e agora, aquele que toca e/ou canta na igreja o faz porque gosta e porque quer. E, se não é assim, também é porque quer, pois ninguém é obrigado a tocar ou cantar, pelo menos esta não é a prática comum, não é mesmo? Logo, o músico de igreja se diverte tocando e se alegra com isso, o que contribui ricamente para seu desenvolvimento enquanto músico e enquanto indivíduo.

Destaco isto porque tenho percebido, principalmente em ambientes musicais conservatoriais, que os "músicos profissionais" meio que perderam um pouco dessa alegria de tocar ou cantar. É toda uma obsessão e um TOC em busca da emissão sonora perfeita e/ou da escala excepcionalmente bem executada que estes músicos têm vivido verdadeira opressão em sua prática musical. Não vejo como isso seja positivo para o seu próprio fazer musical e para seu desenvolvimento enquanto indivíduos. Acho que, muitas vezes, falta ao estudante formal de música o velho prazer e a velha alegria que se sentia quando ainda era apenas um "músico amador". Reitero, contudo, o que disse há pouco: há casos e casos, tá? rsrs


O músico de igreja também estuda música

Um grande mito que se apregoa e que já ouvi na boca de muitos é que o músico de igreja não estuda. Bom, não é bem assim. Depende do caso. Conheço muuuuuitos músicos de igreja que estudam e estudam muito: uma galera verdadeiramente dedicada em seu crescimento musical, motivada ainda mais pelo desejo de oferecer o seu melhor ao seu Deus. Além disso, não posso deixar de mencionar que só porque alguém não faz um estudo formal (e/ou academicamente estabelecido) de música isso não quer dizer que este alguém não estude música. 

É de extrema importância lembrar que, na verdade, o academicismo é que veio depois da prática cotidiana e informal.  A arte como um todo (o que inclui a música) surgiu na base da prática e da imitação, surgiu no dia-a-dia dos indivíduos, principalmente naquelas civilizações em que a música era parte indispensável nos rituais religiosos, sociais ou até mesmo em tarefas corriqueiras, como ninar um bebê. Sendo assim, não posso deixar de dizer que há muitos "músicos de igreja" (desculpem, mas ainda vou precisar usar um bocado esta expressão hehe) que, mesmo que informalmente, têm desenvolvido suas habilidades artísticas e musicais, seja quando ouvem em casa uma música a ser ensaiada no futuro, seja quando estão ensaiando e, juntos, resolvem criar um novo arranjo, seja numa simples conversa entre si ou apenas num assistir de vídeos no youtube pra "pegar" determinado arranjo de determinada música. GEEEENTE, isso também é estudar música, só que de maneira diferente! E digo isso tudo sem mencionar as igrejas que possuem uma escola de música e práticas de educação musical bem assentadas e estabelecidas. Aí é que eles estudam mesmo! hehe


O músico de igreja pode ser tão ruim quanto um "músico profissional"

Quando falamos sobre questões de irresponsabilidade, atrasos e negligências, posso lhes garantir que também já vi muito disso no meio profissional, até porque o atraso, por exemplo, é uma coisa, infelizmente, beeem brasileira, né? rsrsrsrsrs Conheço também muito músico profissional que, por estar acostumado a tocar tudo ali, na hora, pegando "de ouvido" e tal, fica viciado em nunca mais decorar uma cifra sequer. Faaala sério, né? rsrsrs  Posso também citar como exemplo um bocado de "cantor da noite" que conheço e que não tem um mínimo de cuidado com seu instrumento de trabalho: sua voz. Tomam água super, hiper, ultra e mega gelada na hora da apresentação, cantam "rasgando tudo" e, às vezes, são "surdinhos", não se ouvindo bem e desafinando pra caramba. Maaaas, como ele (ou ela) é o cara (ou "a cara" hehe) que faz isso há muuuito tempo e tem experiência e tal, tá "nem aí". E ainda querem falar dos "músicos de igreja"? hahahaha


O músico de igreja, às vezes, é melhor que muito "músico profissional"


Pronto. Agora eu sei que meus pares e colegas de profissão me matam! rsrsrs Mas não posso me negar o direito de afirmar algo que tenho visto em minha prática, ao longo de anos. Conheço muuuuuuuuitos (muitos mesmo hehe) músicos chamados "profissionais" que não "amarram as chuteiras" de alguns músicos de igreja. E não me refiro apenas àqueles dos quais falei há pouco. Conheço gente graduada (e até pós graduada!) em música que, ao meu ver, não é melhor músico que os que conheço e que atuam apenas na igreja. Meu desejo, porém, não é entrar no mérito do ser ou não melhor, porque tanto esta discussão como a simples expressão "melhor do que..." são questões bastante relativas. O que quero pontuar é que não se deve sair por aí dizendo que "músico de igreja é complicado..." ou "Fulano é muito bom pra ser músico de igreja!" e coisas do tipo. Se Fulano ou Sicrano ou Beltrano são bons músicos ou não, isto não deve ser atribuído única e exclusivamente ao fato de serem ou não "músicos de igreja". Há músicos bons e ruins (outros conceitos beeem relativos hehe) em todo lugar e digo isso por experiência própria, porque, ao longo de muito tempo, tenho convido (de perto) com músicos bons e ruins dentro e fora da igreja, assim como também dentro e fora das instituições musicais de ensino.

Conheço muito "robô bem treinado" por escolas de música, mas que não têm autonomia musical alguma para criar, vivenciar, interpretar e compor. Não estou dizendo com isso que todos os músicos devem ter o mesmo perfil, mas, honestamente falando, entre um "robô bem treinado" e um músico autônomo e criativo, fico com o segundo. Por mais "ruim" que seja sua técnica, acredito que seja mais fácil ensiná-lo a buscar a técnica do que ensinar a criatividade a quem dela quase nunca fez uso. Desculpa a franqueza, mas é o que penso.


O músico de igreja teria condições de tocar em qualquer lugar

Muito músico de igreja poderia atuar em qualquer outro espaço. Digo isso sem nenhuma dúvida, até porque conheço muitos que, assim como eu, atuam em ambos os espaços. A música na igreja tem crescido tanto em nosso país que, nos últimos anos, vemos muitos músicos chamados "profissionais" que também são "músicos de igreja". E, tirando questões referentes a suas convicções pessoais e/ou a escolhas próprias, digo sem medo que, mesmo aqueles que não vivem de música bem que poderiam fazê-lo, se assim desejassem. Por isso, contratantes, prestem atenção! hehe Estão precisando contratar alguém? Deem um pulinho em algumas igrejas que vocês bem que podem encontrar o que precisam! hahaha


O músico de igreja não precisa viver de música para ser músico

Mesmo entendendo que muitos músicos que atuam na igreja poderiam atuar em outros contextos e de modo profissional, não sou daqueles que consideram um verdadeiro artista apenas aquele que vive de sua arte. Pra mim, pintor é pintor, ator é ator, dançarino é dançarino e músico é músico. Não vejo a arte como uma simples profissão. Nós podemos até fazer dela o nosso sustento, mas a arte é parte de nossas vidas. A arte é parte do ser humano, ou seja, a música é parte de quem somos. A música é nossa vida, mesmo que tenhamos outras profissões. 

Ser artista, no sentido estrito do termo, não significa ter que trabalhar com isso. Contudo, é preciso ser artista para se trabalhar com arte, é claro. hehe Mesmo sendo eu o que chamam de "músico profissional", sou árduo defensor de que músico é músico e pronto! Portanto, se você, que é "músico de igreja" não sabia disso, saiba, então: você é tão músico quanto eu e quanto qualquer outro! Uhuuuu!!! rsrsrsrs


O músico de igreja tem muito a ensinar

Não posso deixar de encerrar minha pequena lista com este último tópico. Isso porque sou muito grato a Deus pela existência dos "músicos de igreja". Fui (e ainda sou) muito abençoado por eles. Aprendi (e ainda tenho aprendido) muito com eles. Ok, ok. Sei que sou bacharel em música pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN). Sei que tenho curso de Harmonia Funcional e Improvisação pela mesma instituição. Sei também que conclui o curso técnico de Gravação por lá também. E também sei que sou aluno do Mestrado em Música, na linha de pesquisa em Educação Musical, também na mesma instituição. Sei muuuito bem disso tudo. hehe 

Sei, todavia, que não comecei assim. Lembro-me muito bem de quando eu mal andava e já ficava mexendo na bateria da igreja, enquanto "músicos de igreja" me encorajavam nesta atividade. Lembro-me muito bem de quando cantei as primeiras melodias num microfone, nunca sendo excluído por aqueles que tinham mais experiência. Lembro-me também quando precisei tocar 6 ou 7 músicas que nunca havia tocado antes, de uma vez, num culto só (e na segunda vez em que tocava teclado em público hehe), apenas "lendo as mãos" do guitarrista da época, que muito me incentivou em minha prática musical como um todo. E não apenas ele, mas todos os demais "músicos de igreja" da comunidade em questão sempre me estimulavam e orientavam acerca do caminho que eu devia seguir. É fato que meus próprios familiares trabalhavam com música na igreja, o que facilitou todo o processo, mas não posso deixar de reconhecer e honrar muitos outros homens e mulheres que, desde minha infância, muito me ensinaram, mesmo não tendo obrigação alguma de fazê-lo e mesmo sem serem professores de escola alguma. Devo grande parte do músico que sou hoje a cada um deles e, por isso, digo de novo: o músico de igreja tem muito a ensinar!


Conclusões

Concluo deixando aqui minha homenagem e meu respeito a cada músico de igreja Brasil e mundo afora e, em especial, presto minha homenagem a todos os músicos com quem já trabalhei na igreja durante esses mais de 20 anos! Eles são bastante responsáveis por quem sou e, por isso, sou muito grato a Deus por cada um com quem trabalhei e por cada um com quem ainda trabalho (alguns podem ser vistos nas fotos aí hehe). Homenageio também todos os que são de outras igrejas e com quem também tive o privilégio de atuar. Faço questão de dizer (a todos os citados) que sou fã de todos vocês, mesmo com os problemas que enfrentamos no dia-a-dia, e defendo (e sempre defenderei) vocês onde eu estiver. Falo a todos, agora, que a academia tem despertado para a importância da música na igreja e sou testemunha disso, já que tenho presenciado de perto o quanto a prática musical eclesiástica tem crescido em respeito e reconhecimento. Que seja assim também entre nós e nossas igrejas!

Jamais permitam que quem quer que seja, mesmo nossos pares (também "músicos de igreja"), diga que o músico que atua na igreja não é músico. O "músico de igreja" é músico e ponto final! Sintam-se contemplados, então, pela nomenclatura "músicos" e sempre que alguém disser que "músico é bicho complicado" saiba que isso também te inclui. rsrsrs

Que sejamos todos, pois, músicos cada vez melhores para a honra, glória, louvor e adoração de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo! Muita música a todos e um grande abraço!



Em Cristo,
M. Vinicius (Montanha)


Comentários

  1. Se chegar o dia em que as pessoas só puderem ser chamadas de profissionais se ganharem dinheiro desempenhando uma atividade (um profissional é quem exerce uma profissão), eu vou pedir pro mundo parar, porque eu vou querer descer. "A qualificação de profissional não só está vinculada aos conhecimentos ou ao título habilitante (ou grau acadêmico), mas também pode fazer referência ao compromisso, à ética e à excelência no desenvolvimento das atividades laborais ou de outro tipo". Deixo claro que o porquê de ter essa opinião não se refere ao fato de querer ser chamado de músico (títulos pra mim n importam), e sim ,porque sou da linha que honra quem tem honra. Assinado: Raphael Olivar.

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