Falar das letras das músicas que cantamos em nossas igrejas é muito comum, seja como reflexão ou como críticas ao que é cantado. E isso ocorre por muitas razões. Em especial, falamos sobre as letras das músicas por serem elas as supostas possuidoras de nosso conteúdo cristão. Pelo menos, em minha opinião, assim devia ser. No entanto, pra que estas letras sejam as possuidoras de nosso conteúdo cristão, acredito ser necessário que elas tenham nascido em nosso meio. Como determinada música pode nos representar se não veio de nós ou se não possui identificação alguma conosco e/ou com o que pensamos, com o que cremos e com a maneira como agimos?
Segurei muito meu desejo de escrever sobre isso até o momento em que não pude mais me conter e por isso cá estou para falar desse assunto, tentando responder à pergunta: "Por que devemos compor nossas músicas?". Entendo perfeitamente as particularidades de cada pessoa, grupo ou comunidade eclesiástica, mas realmente acredito que todos nós, que fazemos música nas igrejas, devemos compor aquilo que cantamos e apresentarei as razões principais pelas quais penso assim. Deixo, porém, evidenciado que não me proponho a trazer todas as respostas possíveis ao assunto; tenho certeza de que há muitas outras razões além das que apresentarei, mas que não me recordo agora. E, caso você se lembre de alguma, por favor, deixe-a registrada em seu comentário logo abaixo do post, ok? hehe Ou se, porventura, você não concordar com o que tenho a dizer ou quiser apresentar alguma refutação e/ou questionamento a esse respeito, sinta-se livre para também fazê-lo. Agora, vamos as razões anunciadas.
Nossa música deve representar aquilo que cremos
Em primeiro lugar, penso que temos uma ótima oportunidade de expressar (à comunidade cristã em geral e a todos os que não compartilham de nossa fé) aquilo em que acreditamos: a música. Assim como todas as artes, a música é também um meio de expressão e por que não iríamos expressar nossas convicções por meio dela?
Temos presenciado uma grande difusão de diversos artistas, chamados de "artistas gospel", cujas músicas têm sido cantadas em todo o país. Contudo, percebo que, em muitas ocasiões, o que é cantado por estes artistas não concorda com o que toda a cristandade espalhada Brasil afora crê, o que é mais que óbvio, não é mesmo? Não há como se encontrar um cantor (ou banda) que apresente convicções teológicas iguais às de todos os cristãos do mundo! Esta é uma das razões porque acredito que devemos compor nossas músicas.
Cada denominação eclesiástica, apesar das semelhanças quanto aos fundamentos da fé cristã (divindade, morte e ressurreição de Cristo, por exemplo), possui seus credos teológicos, litúrgicos e (por que não dizer?) artísticos. E eu penso ser de grande importância que cantemos apenas aquilo em que cremos, no que acreditamos. Acho um tanto incoerente, por exemplo, presbiterianos cantando uma música que fale de nova unção ou novo derramar do Espírito Santo. A doutrina presbiteriana não crê numa segunda unção. E por que cantar sobre isso, então? Cantar-se-ia algo do tipo só porque determinado cantor(a) ou grupo famoso o apresentou a nós todos? Também não entenderia como apropriado um batista cantar "Ave Maria". Desculpa, eu sei que o exemplo foi beeeem exagerado, mas acho que, assim, ficou bem claro o que eu quis dizer, né? rsrsrs
Seja em pequena ou em grande escala e proporção, muuuuuuuitas (muitas mesmo!) igrejas só cantam música x ou y porque a mesma está em voga ou "tá na moda". Definitivamente, eu NÃO CONCORDO com isso. E acredito que, se queremos viver uma prática musical eclesiástica um tanto mais rica e, principalmente, próxima ao que acreditamos, precisamos sair de nossa zona de conforto e compor músicas assim. Não dá pra ficar cantando aquilo em que não acreditamos e também não dá pra fazer o que, ao meu ver, é, no mínimo absurdo: mudar letras de músicas dos outros. Muita gente faz isso e não acho legal. Do jeito que não gostaria de ver quem quer que fosse mudando as letras de minhas músicas (falo como compositor, agora! hehe), também não fico mudando as músicas dos outros de acordo com o que eu precise adaptar à minha realidade de crença. Se não se adequa, não canto e pronto, oras. rsrsrsrs
Nossa música deve representar aquilo que vivenciamos
Afirma-se que música está relacionada à cultura. Diz-se também que a cultura envolve aquilo que determinados grupos ou indivíduos vivenciam, sendo por esta cultura influenciados ao mesmo tempo que a influenciam. É também por isso que penso que precisamos compor as músicas que cantamos em nossas igrejas. Determinadas histórias, experiências e exemplo trazidos em muitas músicas de outros compositores refletem as realidades experimentadas pelos tais, e não aquilo que nossas igrejas têm vivido enquanto comunidade.
Lembro-me sempre de alguns exemplos de histórias de composição que já ouvi de diferentes cantores cristãos. Sempre me recordo, por exemplo, da canção "Sonda-me, Usa-me" da Aline Barros, que foi composta a partir de uma mensagem pregada pelo Pr. Edson Feitosa, na Comunidade Internacional da Zona Sul, igreja da referida cantora. Tenho certeza de que o impacto que esta canção tem na vida das pessoas que vivenciaram essa história é muito maior do que a marca deixada por ela naqueles que só conheceram a música através da divulgação midiática habitual. Em mesmo pude viver a experiência de ter composto algo a partir de uma mensagem ou, por exemplo, de um acontecimento na igreja da qual faço parte. A música se torna um tanto mais especial, sabe?
Costumo sempre me lembrar de algo que diz o cantor e compositor João Alexandre, em sua música intitulada "Viver e Cantar": "Quero cantar o que vivo, quero viver o que canto...". Acho que esse deve ser o caminho trilhado por nós: viver e cantar; cantar e viver. Logo, é preciso também cumprir aquilo que cantamos, o que se torna bem mais difícil quando cantamos algo distante daquilo que experimentamos e vivenciamos. Realmente acredito que, se vivermos aquilo que cantamos, naturalmente, iremos também desejar cantar aquilo que vivemos. E, pensando nisso, percebo que, em muitas ocasiões, os compositores famosos escreveram determinada música por estarem envolvidos em situações que, em nosso contexto, não têm (ou teriam) a mesma importância (congressos, séries de mensagens, acampamentos, acontecimentos, etc.), o que dificulta essa identificação, tanto no caminho de ida (viver e cantar) quanto no de volta (cantar e viver). Por isso, reitero: precisamos compor nossas canções.
Precisamos fazer nossas próprias orações
Considero nossas músicas de adoração direta ao Senhor como verdadeiras orações. A oração, como acredito que todos saibam, é um momento bastante íntimo, particular e de identificação pessoa com Deus, não é mesmo? É claro que existem as orações públicas, mas, vamos ser sinceros: não são elas, na maioria das vezes, as orações que representam totalmente aquilo que estamos sentindo ou pensando com relação a Deus, né? Há, porém, aquelas orações íntimas e que fazemos (ou, pelo menos, devíamos fazer. hehe) quando ninguém está olhando, em nossos momentos a sós com Deus. Pois bem, pra mim, cantar apenas músicas dos outros é como fazer apenas orações que não são nossas. Posso parecer um tanto exagerado com minha afirmação, mas vejo, sim, as músicas cristãs de adoração direta ao Senhor como orações cantadas. E é claro e evidente que não estou dizendo que há problemas em se cantar músicas dos compositores famosos de nosso país (ou de outros até!). Há casos em que a comunidade também se identifica com o que motivou aquele(a) compositor(a), mas nem sempre isso acontece.
O que quero dizer é que fazer APENAS isso, ao meu ver, evidencia o fato de que não estamos tão dispostos assim a fazer as nossas próprias orações, sabe? É como aquelas orações que são feitas em público e das quais falei há pouco: um monte de palavras já ditas por outros e ainda repetidas, como chavões gospel que se reiteram a todo instante e em todas as reuniões do povo de Deus. Nestas, sempre se usam aquelas clássicas expressões, como: "Soberano Deus e Eterno Pai; "Damos-Te graças, ó Senhor, pelos graaande feitos que tens realizado em nosso meio, pois grandes coisas o Senhor tem feito por nós e, por isso, estamos alegres"; dentre outras frases sempre repetidas. Será que é isto mesmo que Deus quer ouvir de nós em nossas reuniões públicas? Por que nos transformamos tanto quando adentramos os ambientes físicos nos quais a verdadeira igreja se reúne? Isso quando também não nos utilizamos de tais repetições também em nossos momentos a sós com Deus, né? Dito isto, reitero o que penso: cantar apenas músicas compostas por outras comunidades é como fazer orações que não são nossas, mas rezas repetitivas e sem aspecto algum daquilo que a Escritura nos estimula a apresentar ao Senhor: um cântico novo.
Sei, todavia, que estou quase sendo alvejado por aqueles que pensam que apenas alguns seres mais sublimes e espirituais é que conseguem compor alguma coisa. As pessoas que assim pensam estão, no mínimo, a pensar que fiquei doido e/ou que isso tudo é fácil pra mim, pois sou compositor. Não, não e não! Todos nós podemos compor. Digo isso enquanto músico e educador musical, já que diversos autores da área defendem a composição como parte fundamental do fazer musical de todos os que se aventuram nas notas (profissionais ou não), o que contribui para a formação desses indivíduos como um todo. Digo isso também enquanto cristão, estudiosos das Escrituras, teólogo, ministro e líder, já que a Bíblia jamais nos mostrou que há seres humanos mais especiais que outros. Ela diz o contrário e ainda afirma que, se alguém necessita de sabedoria, peça-a a Deus, pois Ele a concederá (Tiago 1:5). Sendo assim, se é desejo seu compor canções ao Senhor, peça a Ele que lhe ajude nisso. Falo por experiência própria: funciona, viu? rsrsrs. Não posso deixar de dizer ainda que, talvez, você não queira ser compositor. Bom, deve ter alguém que queira, então. Só quero deixar claro que não estou dizendo que ninguém é obrigado a compor. O que digo é que, se alguém pode se dedicar a isso, e não o faz por puro comodismo, ao meu ver, esse alguém tem sido negligente. E eu realmente acredito que muitas igrejas têm estado acomodadas por causa do "boom" gospel que temos vivenciado em nosso país. É mais "fácil" apenas pegar músicas de outros, não é mesmo? rsrsrs
CONCLUSÕES
Bom, vamos tentar compor, queridos? Vamos tentar fazer nossa voz ser ouvida pelo Senhor e por aqueles que nos rodeiam. Vamos expressar tudo aquilo que temos vivido e experimentado ao lado de Deus, entregando a Ele tudo aquilo que está, talvez, guardado em nossos corações. Vamos parar de cantar apenas as orações dos outros e vamos dar a Deus as nossas próprias palavras! Vamos viver o que cantamos e vamos cantar o que vivemos! Amém?
Encerro, então, este post dedicando à apreciação e ministração de todos, a canção do João Alexandre que citei há alguns parágrafos: "Viver e Cantar". Esta canção muito me estimulou ao cantar e viver e ao viver e cantar e espero que também sirva de estímulo a todo os que a ouvirem.
Que Deus os continue abençoando, iluminando e dando sabedoria! Abraços a todos!
Em Cristo,
M. Vinicius (Montanha)
Estou passeando por aqui e gostando muito!!! Abraços
ResponderExcluirOooopa! Vlw, querida! Bom tê-la por aqui! Se tiver alguma sugestão, crítica, "tesourada" ou algo do tipo (hehe), fique à vontade! rsrsrs Bjão.
ExcluirOi, Vinícios, bênção de Deus para nós batistas do RN, sempre que tenho tempo estou lendo suas postagens, são edificantes, trazem reflexões do meio musical que creio ser bastante proveitosa nos dias de hoje porque estamos vivendo(na minha opinião) uma grande revolução musical na indústria da música e isso às vezes fica muito confuso na cabeça dos cristãos evangélicos e pq não dizer das pessoas, já q de uma forma ou de outra todos acabam ouvindo. Só queria lido no conteúdo acima um pouco sobre "talento pra compor" creio q vc se refere a quem tem talento, como você tem pra isso pq conheço muitas pessoas que "se dizem compositoras" mas não dá nem pra pegar no "CD" qto mais tocar. Fica na Paz gloriosa de Jesus! Pode postar eque eu leio, sei o quanto isso é importante!! abço!
ExcluirAmém e glória a Deus! Obrigado pelo comentário e por acompanhar o blog, Jack. Qto ao talento, na verdade, não penso como vc disse. hehe E, a propósito, estarei fazendo um post sobre isso. Dá uma olhada lá. hehe Abraço!
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